Tour pelos Balkans

A Romênia provavelmente irá se transformar em um forte destino para o moto turismo  em alguns anos. O país dispõe de algumas rodovias de grande beleza que atravessam montanhas e florestas bem preservadas, além de grande número de opções para os amantes do off-raod. Além disso, existem várias cidades medievais com centros históricos bem preservados, boa gastronomia e uma oferta hoteleira em ampliação. Significativo número motociclístas de toda a Europa já visitam a Romênia. Observam-se atualmente fortes investimentos em infraestrutura, sobretudo rodovias.

Recentemente, com minha esposa, completei uma viagem de 3300 kms, que incluiu além da Romênia, também a Sérvia e parte da Bulgária. O tour começou pelo Parque Nacional Tara, na sérvia formado em torno do rio Drina, que divide a Sérvia e a Bósnia e Herzegovina.  A área com cerca de 250 km2  fica em região montanhosa, coberta por floresta nativa e possui muitos cursos d’agua e cachoeiras. A entrada para o Parque situa-se na cidade de Bajina Basta, no flanco norte. Os hotéis e pousadas mais interessantes, no entando, ficam nas montanhas, próximas. Ao sul, encontra-se Mokra Gora, onde o cineasta sérvio Emir Kusturica (lê-se Kusturitsa) construiu Drvengrad, uma etno-vila com a arquitetura tradicional do país para servir de cenário a um de seus filmes. Construída entre as duas montanhas mais altas da Sérvia, Tara e Zlatibor, a etno-vila abriga atualmente um resort e sedia um festival internacional de cinema. Vale a pena a visita.

O Parque Nacional Tara foi a primeira parada. Essa casinha no rio Drina atrai muitos turistas e já saiu da National Geographic
O Parque Nacional Tara foi a primeira parada. Essa casinha no rio Drina atrai muitos turistas e já saiu da National Geographic
Drvengrad, a etno-vila construída pelo cineasta Kosturica segue a arquitetura tradicional sérvia, onde funciona atualmente também um resort.
Drvengrad, a etno-vila construída pelo cineasta Kosturica segue a arquitetura tradicional sérvia, onde funciona atualmente também um resort.

Dali seguimos, passando por Zlatibor para visitar o Mosteiro de Studenica, região central da Sérvia, considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. O fundador foi o rei Stefan Nemania em 1190, criador do estado medieval sérvio, que abdicou do trono e se tornou monge em Studenica. As estradas montanhosas que levam ao lugar passam por regiões de pecuária, onde é comum ver pastores conduzindo a pé rebanhos de ovelhas, caprinos ou gado, como ocorre desde os tempos tempos  antigos.

O último e principal objetivo na Sérvia era conhecer a estrada do canyon do rio Jerma, local remoto, no meio de montanhas e floresta natural, na fronteira com a Bulgária. Trata-se da única estrada sérvia citada no livro “1001 Rides You Must Experience Before You Die”, de Darryl Steath, com prefácio do célebre motociclista de aventura Charley Boorman. O canyon é bastante estreito e só deixa espaço para o Jerma (que para os padrões brasileiro é um riacho) e a estrada. Em muitos pontos, especialmente nos túneis de pedra, não cabem dois carros simultaneamente.

Dali seguimos para pernoitar em Sófia, Bulgária, para no dia seguinte rumar para a Romênia.

Uma palavra final sobre a Sérvia é que o país me pareceu ter se recuperado menos da guerra que esfacelou a antiga Iugoslávia do que seus vizinhos Croácia e Eslovênia, que conseguiram ingresso na União Européia. A infraestrutura de hotéis, restaurantes e mesmo postos de gasolina em algumas estradas permanece muito deficiente. Vários locais não aceitavam cartão de crédito, o que requer planejar bem o volume de “cash” que pode ser necessário. Como a rede de autoestradas é limitada, um número grande de veículos, inclusive caminhões e ônibus transitam pelas estadas vicinais e criam pontos de congestionamento. O asfalto com remendos irregulares e sem acostamento é muito comum, o que coloca boa parte das estradas sérvias na categoria que requer um nível técnico de pilotagem mais avançado (pelo critério de classificações dos níveis técnicos de dificuldade do Portal Motorrad Experience são Capacete 4e).

Entramos na Romênia pela ponte que liga Vidin a Calafat, separadas pelo Danúbio, e fomos pernoitar em Dobreta-Turnu-Severin. Cidade antiga que margea o Danúbio, com boa gastronomia. Mais ao norte se encontra Orsova, cidade onde termina a Cordilheira dos Cárpatos em um arco que começa na Eslováquia e passa por Polônia, Ucrânia e atravessa a Romênia. Ali o Danúbio divide a Romênia da Sérvia. O rio é ladeado por altas montanhas que formam um canyon e seguem por centenas de quilômetros Sérvia adentro. O cenário é espetacular.

O Danúbio é ladeado por montanhas nesta região da Romênia. Do outro lado é a Sérvia.
Rio Danúbio é ladeado por montanhas nesta região da Romênia. Do outro lado é a Sérvia.

Fomos depois conhecer Sibiu, uma cidade medieval com um belo centro histórico bem preservado, que atrai muitos turistas. No dia seguinte partimos para visitar rapidamente o canyon do rio Sohodol, perto de Targu jiu .

Depois rumamos para a região central da Romênia a fim de comprir o principal objetivo de toda a viagem, que era conhecer as estradas Transalpina, o Passo de Bran e, sobretudo, a Transfagarasana, citadas no livro “1001 Drives…”.  As três estradas, apesar dos diferentes nomes, atravessam a mesma Cordilheira dos Cárpatos no sentido norte-sul. Aproveitamos e vistamos o famoso castelo do Drácula, que fica em Bran, não muito longe do passo.

A Transfagarasan é a estrada mais famosa da Romênia. São 106 km ligando Cartisoara a Albesti de Arges. Fotografia: Agnes Balduino.
A Transfagarasan é a estrada mais famosa da Romênia. São 106 km ligando Cartisoara a Albesti de Arges. Fotografia: Agnes Balduino.

 Lago Balea, localizado no ponto mais alto da Transfagarasan.
Lago Balea, localizado no ponto mais alto da Transfagarasan.

Esse trecho da estrada permanece aberto apenas por quatro meses por ano devido às condições climáticas.

Ao final visitamos Sighisoara, outra cidade com um centro medieval bem preservado. Muito ainda ficou por ser visto. No nordeste do país, por exemplo, há uma estrada que percorre o Canyon Biscaz e parece ser incrível. Mais ao norte ficam antigos mosteiros, famosos pelos afrescos gigantes na parte externa. São Patrimônio da Humanidade da UNESCO. São bons motivos para voltar.

Centro histórico e torre medieval de Sighisoara, Romênia.
Centro histórico e torre medieval de Sighisoara, Romênia.

Até a próxima

Luis Antonio Balduino

7 respostas

  1. Relato riquíssimo nos detalhes. Texto escrito com a competência de quem tem um olhar especial pelos países visitados. Luís Antônio vai muito além das duas rodas, a observação da cultura e da história local enchem os olhos dos que pretendem ainda fazer o leste europeu. Parabéns pela viagem e obrigado por compartilhar experiências emocionantes e belíssimas com a gente!

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