Parei pra escrever sobre motociclismo, moto, ou qualquer coisa ligada ao assunto. Escrever o quê? Bom já que passo praticamente o tempo todo no meu dia pensando em moto, vou colocar alguns dos meus pensamentos em palavras e ver no que dá.
Algo que sempre pensei em discutir com amigos é os desafios das viagens em grupo, no que tange os próprios amigos. Talvez esse seja um dos pontos mais difíceis no planejamento, já que não dá pra ter um critério universal. Não dá simplesmente pra dizer “tem que ser um cara legal” ou “se não tiver paciência não pode ir”. O que é ter paciência? Um amigo estava cruzando o passo Sico, um dos mais tenebrosos da Cordilheira do Andes e um dos pilotos do grupo, um amigo de infância, caiu e quebrou a perna. Estavam no frio congelante, a noite, sem recurso e nem ideia de como sair daquela situação. Dá pra ter paciência nesse momento? Sem ter ideia se estará vivo em algumas horas?
E quando fui ao Atacama em oito amigos. O “planejador” abriu que iríamos num grupo de whatsapp e muitos se interessaram. Ele simplesmente falou: “Bora?”. De repente tinha moto desde 300cc até 1200cc. Pronto, vai ser um caos, pensei. Não vai dar certo. Abdicar de poder acelerar nas retas intermináveis do país dos Hermanos e ficar mais tempo do que o necessário na estrada, por causa das “motoquinhas”. Pois qual não foi minha surpresa quando os dois que estavam nas pequenas, eram os agregadores do grupo. Foram por diversas vezes os que apaziguaram discussões demasiadamente acaloradas, que quase chegaram em vias de fato, e em outras quem reconciliou membros “brigados”. Hora, não teríamos retornado juntos sem eles. Talvez nem mantivéssemos a amizade que tínhamos caso não estivessem ido conosco. E olhando para trás, engraçado que os irmãos que desistiram porquê não queriam andar “devagar” com as motos de 300cc, simplesmente perderam o contato desde então. Nunca mais os vimos. Essa viagem nos uniu para sempre. Estava escrito, era pra ser assim. O motociclismo cria círculos que não se explica. Fui depois ao Ushuaia só com motos “grandes” e não foi nem de longe tão prazeroso e gratificante.
Acredito que a magia de cada grupo, a energia que une pilotos e amigos é soberana e sempre nos trará mistério que nunca vamos explicar. Seremos sempre submissos ao universo motociclístico, se é que essa palavra existe. E não há planejamento que o vença.
Texto de Rodrigo Cabral